Existe uma raiva que as vezes me consome, raiva essa que por sua vez evolui aleatóriamente para um sentimento de ódio.
As vezes a indiferença exposta em seus retratos na parede, simplesmente me incomodam.
Fotografias vazias do seu dia-a-dia a qual eu me considero mais um abajur ali no canto de qualquer paisagem, paisagem que ninguém está a notar.
Os olhos estão voltados aos sorrisos liquidos que estão a escorrer por entre as molduras daquele velho retrato; isso me irrita.
Os meus desenhos já não são bonecos a qual eu gostaria de lhes dar o sopro de vida, hoje pra mim desenhos são apenas desenhos; eu me mantenho a rabiscar fotografias, refaço elas em desenho em uma folha de papel, fico horas tentando deixar o mais parecido possivel. Nunca consigo. Não consigo manter aquele velho e mecânico sorriso das fotografias.
O ódio me toma quando ninguém consegue compreender a forma a qual tento me expressar;
existe algo que impede a visão das pessoas sobre a forma a qual eu costume reagir às ações que me afetam;
Existe uma ânsia aqui dentro que me toma por completa, náuseas é o que sinto quando ninguém nota porque fico horas vendo as mesmas coisas;
porque fico completando minha caneca de café de hora em hora;
porque ouço a mesma música mil vezes;
porque eu tenho dificuldade em digitar utilizando todos os dedos da mão;
porque eu espero que me digam mais do que um mero "tchau" em quaisquer despedida.
Eu espero mais.
Raiva é o que sinto por me fazerem de abajur no canto da paisagem.
Sinto que eu nunca vou ser o sorriso liquido que escorre em qualquer fotografia.
Eu sinto que nunca vou ser o foco da minha própria vida.
E por mais que eu tente arrancar todos os retratos da sua parede, você torna a pendurá-los novamente. E eu cansei de tirar os retratos e colocar meus desenhos.
Desenhos que expressam mais, desenhos que não alegram o ambiente, mas desenhos que sabem sorrir melhor do que seus retratos indiferentes.
Fique com seus retratos felizes. Eu estarei aqui com meus desenhos mal copiados, mal apagados, todos borrados à procura de um sentimento a expressar, mas que no fim nada expressam, mas que sabem como ninguém sorrir com verdade.
E sorrir não significa mostrar os dentes.
Eu tenho visto os seus auto-retratos também, e pude perceber que eles também sorriem descaradamente.
Eu poderia fazer um desenho do seu rosto, e acho que eu até conseguiria fazê-lo sem borrar, fácil seria começar com uma folha em branco e terminar com uma folha em branco. Pois não costumo desenhar rostos indiferentes, sorrisos liquidos não molham mais meus pensamentos; indiferença pra mim nada é, logo, a folha estaria em branco.
Seria a cópia perfeita do que somos.
Somos nada.
Somos fotografias, e não desenhos.
Desenhos se concertam, desenhos são apagados, desenhos expressam mais.
Nós não.
Juro, que se voltar a pendurar em minha parede mais um de seus retratos, explodirei em mil pedaços, e a pior parte de mim, poderá te ferir gravemente.
Então, fique longe, já que não sabe desenhar.
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