terça-feira, 7 de setembro de 2010

Os retratos são os mesmos

Existe uma raiva que as vezes me consome, raiva essa que por sua vez evolui aleatóriamente para um sentimento de ódio.
As vezes a indiferença exposta em seus retratos na parede, simplesmente me incomodam.
Fotografias vazias do seu dia-a-dia a qual eu me considero mais um abajur ali no canto de qualquer paisagem, paisagem que ninguém está a notar.
Os olhos estão voltados aos sorrisos liquidos que estão a escorrer por entre as molduras daquele velho retrato; isso me irrita.
Os meus desenhos já não são bonecos a qual eu gostaria de lhes dar o sopro de vida, hoje pra mim desenhos são apenas desenhos; eu me mantenho a rabiscar fotografias, refaço elas em desenho em uma folha de papel, fico horas tentando deixar o mais parecido possivel. Nunca consigo. Não consigo manter aquele velho e mecânico sorriso das fotografias.
O ódio me toma quando ninguém consegue compreender a forma a qual tento me expressar;
existe algo que impede a visão das pessoas sobre a forma a qual eu costume reagir às ações que me afetam;
Existe uma ânsia aqui dentro que me toma por completa, náuseas é o que sinto quando ninguém nota porque fico horas vendo as mesmas coisas;
porque fico completando minha caneca de café de hora em hora;
porque ouço a mesma música mil vezes;
porque eu tenho dificuldade em digitar utilizando todos os dedos da mão;
porque eu espero que me digam mais do que um mero "tchau" em quaisquer despedida.
Eu espero mais.
Raiva é o que sinto por me fazerem de abajur no canto da paisagem.

Sinto que eu nunca vou ser o sorriso liquido que escorre em qualquer fotografia.
Eu sinto que nunca vou ser o foco da minha própria vida.
E por mais que eu tente arrancar todos os retratos da sua parede, você torna a pendurá-los novamente. E eu cansei de tirar os retratos e colocar meus desenhos.
Desenhos que expressam mais, desenhos que não alegram o ambiente, mas desenhos que sabem sorrir melhor do que seus retratos indiferentes.
Fique com seus retratos felizes. Eu estarei aqui com meus desenhos mal copiados, mal apagados, todos borrados à procura de um sentimento a expressar, mas que no fim nada expressam, mas que sabem como ninguém sorrir com verdade.
E sorrir não significa mostrar os dentes.

Eu tenho visto os seus auto-retratos também, e pude perceber que eles também sorriem descaradamente.
Eu poderia fazer um desenho do seu rosto, e acho que eu até conseguiria fazê-lo sem borrar, fácil seria começar com uma folha em branco e terminar com uma folha em branco. Pois não costumo desenhar rostos indiferentes, sorrisos liquidos não molham mais meus pensamentos; indiferença pra mim nada é, logo, a folha estaria em branco.
Seria a cópia perfeita do que somos.
Somos nada.
Somos fotografias, e não desenhos.
Desenhos se concertam, desenhos são apagados, desenhos expressam mais.
Nós não.

Juro, que se voltar a pendurar em minha parede mais um de seus retratos, explodirei em mil pedaços, e a pior parte de mim, poderá te ferir gravemente.
Então, fique longe, já que não sabe desenhar.

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